A obesidade é fator de risco para diversas doenças crônicas e metabólicas como por exemplo a hipertensão arterial. A incidência de hipertensão arterial em crianças bem nutridas é de 10,4%, já em crianças com sobrepeso e obesidade este percentual sobe para 68%. O número total de crianças e adolescentes com sobrepeso ou obesidade ultrapassa 340 milhões, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O artigo investigou a influência da prática de exercícios físicos sobre a pressão arterial de crianças com sobrepeso e obesidade. O estudo aconteceu na Espanha de outubro de 2015 a junho de 2016. As crianças foram recrutadas nas consultas pediátricas de 12 centros de saúde e nas consultas de endocrinologia do Complexo Hospitalar Universitário de Granada.
Foram 108 crianças com sobrepeso e obesidade divididas aleatoriamente em dois grupos: grupo intervenção (GI) e grupo controle (GC), cada um com 54 crianças. Ambos os grupos receberam informação nutricional, mas apenas o grupo intervenção participou da prática de exercício físico. A composição corporal foi determinada por bioimpedância e a pressão arterial aferida com o tensiômetro OMRON M3.
Os pacientes foram classificados com sobrepeso ou obesidade de acordo com o índice de massa corporal (IMC). Para meninos de 10 anos (idade média da amostra do estudo) a condição de sobrepeso correspondia ao IMC de 20,20 a 24,57 e a obesidade ao IMC superior a 24,57. Para meninas da mesma idade o excesso de peso era determinado pelo IMC de 22,30 a 24,77 e a obesidade por valores acima de 24,77.
Foi elaborado um programa de exercícios físicos baseado em jogos, com quatro sessões de 90 minutos por semana durante os nove meses do ano letivo, paralelamente as sessões teórico-práticas sobre aconselhamento nutricional ministradas duas vezes por mês a todas as crianças (GI e GC) e seus familiares. Os exercícios físicos eram compostos por sessões lúdicas, não competitivas, com objetivo de tornar a prática prazerosa e envolvente para as crianças. Todas as sessões foram estruturadas em três partes: aquecimento, atividade principal e volta calma, com pausa de 5 minutos para hidratação e descanso. O principal elemento da sessão de exercícios eram jogos e esportes adequados às capacidades físicas próprias a idade do público alvo, com componente aeróbico envolvendo pequenos saltos. Durante as primeiras semanas, as atividades eram delegadas pelos professores do esporte, depois as crianças podiam escolher os jogos que queriam praticar de acordo com sua preferência.
No grupo intervenção observou-se uma diminuição significativa na pressão arterial sistólica (queda de 128mmhg para 124mmhg) e na pressão arterial diastólica (queda de 41mmhg para 38mmhg). Já no grupo controle os valores aumentaram substancialmente subindo de 129mmhg para 131mmhg na pressão arterial sistólica e de 38mmhg para 41mmhg na pressão arterial diastólica. Em relação ao nível de gordura corporal, o grupo que praticou exercício físico apresentou uma redução de aproximadamente 3% em comparação ao percentual de gordura inicial, já o GC aumentou aproximadamente 3% o valor de gordura corporal.
Foi possível observar que 85,7% das crianças que compunham o praticaram exercício apresentavam uma pressão arterial elevada antes do período de intervenção, mas, após a prática dos exercícios, esse nível caiu consideravelmente (26,3%). Entretanto, no grupo que não praticou exercício, o número de crianças com pressão arterial alta subiu de 77,6% para 81,6% ao longo do período de estudo.
O artigo conclui que as recomendações nutricionais por si só não são suficientes para uma intervenção bem sucedida e que a prática dos exercícios na infância é essencial para diminuição do sobrepeso, obesidade e da hipertensão arterial infantil.