Entenda como apenas entrevistas motivacionais podem não ser o suficiente para promover mudanças no peso e na adesão a prática de exercícios em pessoas com alto risco de desenvolver doenças cardiovasculares

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As intervenções mais eficazes para prevenir as doenças cardiovasculares em pessoas de alto risco ainda não estão claras, mas a caminhada, especialmente com o uso de um pedômetro, é promovida como um exercício benéfico. Além disso, a entrevista motivacional é uma abordagem psicológica que pode ajudar na adoção de estilos de vida mais saudáveis e na perda de peso, embora os estudos tenham apresentado resultados mistos.

Por este motivo o objetivo deste estudo foi comparar a eficácia da entrevista motivacional aprimorada (estilo de conversa colaborativa que visa o fortalecimento da motivação e comprometimento com a mudança) , realizada por profissionais de saúde, na promoção da atividade física e na redução de peso em pessoas com alto risco de desenvolver doenças cardiovasculares.

Foram avaliados 1.704 pacientes com alto risco de desenvolver doenças cardiovasculares, de 40 a 74 anos, em um período de 12 a 24 meses. O quadro teórico que embasou a entrevista motivacional aprimorada foi baseado na Teoria Cognitiva Social e na Teoria do Comportamento Planejado, que defendem a intenção como força motriz para qualquer mudança de comportamento.

Os participantes foram divididos em três grupos: o que foi submetido à entrevista motivacional em grupo, o que foi submetido à entrevista motivacional individualmente e o grupo de controle. A intervenção consistiu em 10 sessões ao longo de 12 meses, ministradas por treinadores de saúde. Os participantes receberam um livro de trabalho, pontos-chave de aprendizado para cada sessão, planilhas de planejamento de ação, estudos de caso, diários de autorrelato e um pedômetro com instruções de uso. A fase intensiva consistiu em 6 sessões semanais durante os primeiros 3 meses, focadas em atividade física e dieta. A fase de manutenção consistiu em quatro sessões realizadas aos 3, 6, 9 e 12 meses.

O treinamento consistiu em 8 semanas de aprendizado didático, role-playing (mudança do comportamento de alguém para assumir um papel), exercícios em grupo e discussões de casos utilizando materiais padronizados sobre entrevista motivacional e técnicas de mudança de comportamento baseadas na terapia cognitivo-comportamental. Na intervenção em grupo, com duração de 120 minutos, os pacientes foram encorajados, adicionalmente, a utilizar o apoio entre pares durante e entre as sessões. Os participantes do grupo individual receberam a mesma intervenção, mas sem apoio entre pares, em sessões com duração de 40 minutos.

As avaliações realizadas para mensurar os resultados das intervenções incluíram medidas de atividade física (número médio de passos por dia), peso, colesterol (LDL) e pontuação QRisk2.

Os principais resultados demonstraram que não foram observadas diferenças significativas na atividade física entre os grupos de intervenção individual e em grupo em comparação com o grupo de controle ao longo de 12 e 24 meses. Em relação ao peso, após 12 meses, tanto o grupo de intervenção individual quanto o grupo de intervenção em grupo apresentaram pequenas reduções significativas no peso em comparação com o grupo controle. No entanto, essa diferença não foi mais evidente após 24 meses. Não houve diferenças significativas entre os grupos de intervenção e o grupo de controle em relação ao colesterol LDL e aos escores de risco de doenças cardiovasculares.

Conclui-se que a intervenção intensiva de estilo de vida, utilizando habilidades aprimoradas de entrevista motivacional, não foi eficaz em melhorar o nível de atividade física praticada, o peso, o colesterol LDL ou os escores de risco de doenças cardiovasculares em adultos com alto risco de desenvolver doenças cardiovasculares em comparação com o tratamento padrão ao longo de 24 meses.

Aplicações práticas: abordagens mais intensivas, do que apenas entrevistas motivacionais, podem ser necessárias para apoiar a mudança de estilo de vida em pessoas com alto risco de desenvolver doenças cardiovasculares. Isso pode envolver programas que ofereçam suporte psicológico completo, abordem crenças prejudiciais e promovam a adesão a programas estruturados de dieta e atividade física.

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Educação Física e Saúde

Referência bibliográfica

ISMAIL, K. et al. Reducing weight and increasing physical activity in people at high risk of cardiovascular disease: a randomised controlled trial comparing the effectiveness of enhanced motivational interviewing intervention with usual care. Heart. v. 106, p.447-454, 2019.

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Exemplo: Graduação em educação física e saúde pela Universidade de São Paulo (USP)